Seppuku é o termo formal para o ritual suicida chamado popularmente de
harakiri .
Harakiri significa literalmente "cortar a barriga" ou "cortar o estômago", e é uma forma de suicído por esventramento.
Era cometido por guerreiros, como uma forma de expiar seus crimes,
pedir desculpas por seus erros, escapar da desonra, arrumar perdão para
seus amigos e provar sua sinceridade.
A técnica
Seppuku era um ritual que seguia sempre a mesma ordem: o
samurai banhava-se para purificar seu corpo e a sua alma. A seguir
vestia a roupa específica do seppuku, totalmente branca, tomava uma
xícara de saquê, sempre em dois goles, e a seguir escrevia um ou dois
poemas de despedida. Então deveria ajoelhar-se e enfiar sua tanto, wakizashi ou um punhal,
na barriga, no lado esquerdo, e cortá-la então, até o lado direito
deixando assim as vísceras expostas para mostrar sua pureza de caráter e
no fim puxar a lâmina para cima, fazendo assim um corte em cruz. O
seppuku era horrivelmente doloroso, mas o samurai, de acordo com o seu código de honra, não podia demonstrar dor ou medo ao realizá-lo.
No mundo dos guerreiros,
seppuku era um feito de bravura que
era admirado em um samurai que sabia haver sido derrotado, caído em
desgraça ou mortalmente ferido. Significava que ele poderia terminar
seus dias com os seus erros apagados e sua reputação não apenas intacta
como engrandecida. O corte do abdômen liberava o espírito do samurai da
forma mais dramática, sendo uma forma extremamente dolorosa, lenta e
desagradável de morrer. Não raro, o samurai, após abrir o ventre,
permanecia vivo por horas ou mesmo dias, esvaindo-se em sangue e ao
mesmo tempo sentindo uma dor indescritível. Por isso, algumas vezes o
samurai que o fazia pedia a um companheiro leal que fosse seu assistente
e lhe cortasse a cabeça antes que esta pendesse ou que demonstrasse não
estar mais suportando a dor, o que seria considerado uma desonra tanto
para o que cometeu
seppuku quanto para o assistente. O assistente
precisava ter um domínio magistral da técnica da espada para que fosse
chamado a executar essa função, pois ao degolar o companheiro, a cabeça
deste não podia rolar para o chão, o que seria considerado um
desrespeito ao mesmo e a seus familiares. Assim, o corte executado pelo
assistente só podia abrir a garganta do samurai, jamais romper suas
vértebras. Daí a necessidade do companheiro que assistia o samurai
suicida ser um exímio espadachim. Esse ato era chamado de
kaishaku.
Fatores culturais do Seppuku
Dentre os motivos para cometer
seppuku está a falha ao servir
seu senhor ou perda da honra por qualquer motivo. Se o senhor do samurai
fosse derrotado na guerra e o samurai não cometesse
seppuku,
nenhum outro senhor iria contratá-lo. Nessas circunstâncias, ele estaria
renunciando publicamente à classe dos Samurais e passaria a ser chamado
de ronin(outra
possível pronúncia é "Rounin"), cujo sentido literal é "homem-onda"
pois, tal como as ondas do mar, viveria sem destino certo, normalmente
realizando pequenos serviços para os senhores mais abastados ou
ensinando a técnica da luta com espadas a quem se interessasse. Por
exemplo, no filme Ronin, com Robert DeNiro e Jean Reno, as personagens
são como ronins atuais.
Seppuku é uma parte chave do Bushido,
o código dos guerreiros samurais. Era utilizado pelos guerreiros para
evitar cair nas mãos dos inimigos, ser usado por inimigo e para atenuar a
vergonha que isso causaria. Os samurais podiam também receber ordens
dos daimyo (senhores feudais) para que cometessem
seppuku.
Guerreiros que caíssem em desgraça também tinham permissão por vezes
para cometer seppuku ao invés de serem executados. Como o principal
ponto do ato era a restauração ou proteção da honra do guerreiro, os que
não pertenciam a ordem dos samurais não eram obrigados e não se
esperava que cometessem
seppuku. Samurais mulheres somente poderiam cometer esse ato com permissão.
No livro
The Samurai Way of Death, Samurai: The World of the Warrior, o dr. Stephen Tumbull menciona que
o
Seppuku era normalmente executado usando um tantō (faca curta). Poderia
ocorrer com a preparação e na privacidade da casa do individuo, ou
rapidamente em um local no campo de batalha enquanto os companheiros
mantinham os inimigos a distancia.
Alguma vezes o
daimyo era chamado para fazer um
seppuku
como base para um acordo de paz. Isso deveria enfraquecer o clã
derrotado de forma que a resistência deveria efetivamente cessar. Toyotomi Hideyoshi usou o suicídio de um inimigo nesse sentido várias ocasiões, a mais dramática das quais encerrou a dinastia
daimyo definitivamente quando Hōjō foi derrotado em Odawara em 1590. Hideyoshi insistiu no suicídio do
daimyo Hōjō Ujimasa, e no exílio de seu filho Ujinao. Com um corte de uma espada a mais poderosa família de
daimyos do Japão teve o seu fim.
"Apenas vencendo o medo da morte, alguém pode descobrir o enigma da vida."